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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

BISTRÔS

Nonada a ver com Guimarães Rosa. Às vezes, apenas os grupos criam ou se apropriam de palavras para designar coisas e simplificar sua comunicação.

O pessoal da redação do TOA, por exemplo, costuma marcar almoços em “bistrôs”. Algum passante que ouvisse um convite desses pro almoço logo imaginaria toda a equipe de redação em um chique ambiente com mesas altas (“Comprei numa viagem que eu fiz, um lugar que ninguém conhece”), jazz ao fundo (“Só eu tenho esse disco no hemisfério sul”), garçonetes formadas em sociologia com guardanapos na cabeça e cardápios escritos com giz (“Do tempo que eu dava aulas, mas eu era A-PAI-XO-NA-DA por ensinar, ficava falando e não usava giz”) na parede pintada por um artista plástico (“Ele é GE-NI-AL. Mas incompreendido, as pessoas não valorizam arte aqui, o governo não incentiva”).


Os bistrôs frequentados pela turma do TOA tem uma natureza mais “rústica”, por assim dizer. “Despojado” também seria um bom termo. O menu, normalmente está em uma placa de madeira que outrora foi uma campanha de marketing da coca-cola. Geralmente, “Coca-cola é isso aí!”, de 1982. Ou seja, “retrô”. E é sempre o mesmo: arroz, feijão, massa, uma carne qualquer, algum legume refogado e salada de tomate, cebola e alface. Cardápio tradicional e que valoriza as raízes brasileiras. 

Frequento um, no centro, no qual esse prato mais um copo de guaraná sai por R$ 7,50. Popular. Claro que existem entradas e aperitivos, geralmente com inspiração francesa. O chef gosta de brincar com os sabores locais e a influência internacional. Oeufs marinés, cuisse poulet, saucisse roulé estão entre as preferências dos frequentadores.

As mesas são, geralmente, aquelas da Skol ou da Kayser. Às vezes, das duas, o que destaca o caráter híbrido e multicultural do ambiente. O chão é de cimento, rachado e com infiltração. A boca com poucos dentes do dono da casa apenas ressalta a poesia do ambiente. Segundo Mário Quintana, o sorriso mais sincero é o sorriso desdentado.

Muitas vezes é possível participar de animadas rodadas de dominó ou de um simpático carteado que se desenvolve nas mesas do fundo. São as melhores mesas, mas reservadas aos frequentadores mais tradicionais.

Já vi um garrafão de vinho (somente o casco) ser trocado por uma dose da mais pedida bebida da casa, a brasileiríssima cachaça.

Portanto, quando doravante falarmos em bistrôs por aqui, já sabe de que tradicionais ambientes estamos falando.
Luiggi

Um comentário:

  1. Ah, os bistrôs...

    Nos tempos em que eu trabalhava em uma grande empresa de ferramentas da capital, lá pelas bandas do Navegantes, costumava almoçar em um bistrôzinho cor de laranja que ficava no térreo de um motelzinho.

    Almoçava-se enquanto os casais "recém-conhecidos" subiam de mãos dadas para os quartos. Jamais comi galetinhos iguais!

    Abraço,
    Jonnhy

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